Tanto o profeta quanto o filósofo estendem seus dedos e apontam: o profeta aponta indicando; o filósofo questionando e salientando. Mas ambos apontam. Ao fazer isso, eles se esforçam para levar ao seu alvo final aquele ato espontâneo da sua infância, quando começou a apontar instintivamente. Ninguém precisa ensinar um bebê a apontar, pois desde que nasce do ventre materno, ele aguarda pelo dia em que seus atos inarticulados – que chupam, sacodem e agitam – possam finalmente convergir naquele precioso momento de significação. De repente, um pequeno dedo indicador gordinho estira-se e, subitamente, tal qual um revólver, aponta ao mundo.
No ambiente maravilhoso e assustador ao seu redor, os bebês já estão procurando por sentido; em sua inocência, já estão em busca de respostas. Mesmo antes de falar, o dedo em riste é acompanhado pelos olhos da criança, e esses olhos começam a questionar: “Que raios é isso?! Será aquilo?” Os profetas também estão à espreita, em busca do Logos, sejam eles profetas judeus ou muçulmanos, bodhisattvas budistas ou avatares hindus; eles percorrem, com seus dedos estendidos, um conjunto de candidatos, tentando identificar Aquele que está por vir. Também os filósofos estão em busca do mesmo Logos, embora eles o procurem mais nas ideias e nos argumentos que nas pessoas; mas, de igual maneira, olham e apontam.
Um bom cristão respeita e honra todos os profetas por suas tentativas de finalmente ressaltar a suprema Palavra da Verdade, e também todos os filósofos por tentarem apontar o sentido que ela implica. Mas em meio a um mundo de cultos e crenças, fés e ideologias conflitantes, as mais das vezes eles se deparam com aproximações e até distorções – um borrão aqui, uma névoa acolá. Em lugar nenhum aparece aquele Logos totalmente delineado que tanto almejam ver. Ou, pelo menos, até um dedo famoso se estende.
Na plenitude dos tempos, nossa atenção é direcionada para o Logos em 4K. Em clara e inconfundível alta definição, vemos o longo dedo indicador do último profeta do Antigo Testamento, São João Batista. Ao longo dos nós desse dedo vão viajar, um dia – de junta a junta – tanto os olhos penetrantes dos profetas do mundo, quanto as mentes questionadoras de milhares de filósofos. Com alívio e gratidão eles finalmente fixarão seus olhos naquilo para o qual o desalinhado Batista está apontando. E da sua boca vão ouvir as palavras surpreendentes: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo!”