Todos os bebês apontam sem treinar. Mãe alguma precisa instruir seu filho a estender seu pequeno dedo indicador e a dirigi-lo a um objeto. Eles fazem isso sozinhos e esta, assim como falar e andar, é uma das conquistas que checamos em nossa lista, quando a criança, progressivamente, abre-se ao mundo. Este gesto vem antes da linguagem e, na verdade, a própria linguagem deixaria de “chegar ao ponto”, por assim dizer, se aquele dedo soberano não apenas a precedesse, mas o acompanhasse permanentemente. Todo adulto continua apontando pelo resto da sua vida – entre eles, filósofos e profetas.
Estudos recentes mostraram que a mente do bebê não está apenas manifestando interesse pessoal nos objetos para os quais o dedo aponta. Ela está também se oferecendo às outras pessoas para contemplar ou ouvir junto aquilo que despertou a atenção, e compartilhar a percepção em comunhão com um outro. Uma vez adultos, quando vemos algo de que gostamos, ou até algo que nos cause medo ou desgosto, um de nossos primeiros impulsos é chamar a atenção de alguém, para que não apreciemos ou temamos em isolamento.
De fato, há algo de social na sensação. Recordo-me de uma passagem no Comentário de Macróbio sobre o Sonho de Cipião (de Cícero), em que alguém que, tendo ascendido às maiores alturas dos Céus, vê as gloriosas vastidões da Criação diante de seus olhos; depois faz uma observação reveladora. Ele diz o quão enormemente triste seria ter recebido a graça de contemplar tão esplêndida série de maravilhas, mas sem ter com quem compartilhar a experiência.