Alguns amigos e alunos me pediram para indicar os autores que exerceram a maior influência sobre minha vida e meu pensamento nos últimos 50 anos. Se alguma vez minhas palavras comunicaram luz e tocaram vidas, o crédito deve-se em grande parte aos professores maravilhosos que eu tive e aos livros de alguns autores que li. Uma vez que os professores todos já bateram as botas, contento-me em indicar os autores. Restrinjo a lista a autores de tempos recentes; Platão, Aristóteles, Agostinho e Tomás de Aquino ocupam obviamente o topo da lista, assim como os demais autores das assim chamadas Grandes Obras (“Great Books”) – no drama, história, epopeia e poesia. Todas elas estarão também pressupostas.
Nos últimos anos (desde que esbocei o parágrafo acima), alguns autores novos entraram na lista. Três deles, em particular, mostraram ser capazes de trazer inovação a partir da preservação do antigo – como ensinou Confúcio –, e de conectar múltiplos pontos, outrora desconexos, em minha educação.
Comprei o Curso de Filosofia de João de São Tomás em Roma em fins dos anos 1970, em uma linda edição latina. Estudei sua lógica e teoria dos signos com grande atenção na época. Continuei a ponderar sobre a questão dos “signos” até finalmente publicar minha própria síntese modesta sobre a matéria na virada do novo século (disponível aqui: Os sete signos). Minha preocupação naquele tempo era mais sobre a noção de símbolo, mas como eu viria a saber, há muito mais no pacote do que isso.
Em meados da segunda década do novo século, topei com o trabalho de Charles Peirce, 1860-1914, e do semiólogo, Thomas Sebeok, recentemente falecido. Verifiquei que todo esse assunto tomou novos – e, não obstante, antigos – caminhos nos últimos 50 anos. Conhecer os trabalhos de meu conterrâneo, John Deely, tornou-se a peça final do quebra-cabeça para me chamar atenção de forma permanente.
Algo análogo aconteceu ao mesmo tempo, ainda que mais para o lado menos teórico das coisas – isto é, mais prático (moral, apetitivo etc.) –, quando eu finalmente cedi aos rumores que me assaltavam há anos e comecei a ler os trabalhos de René Girard. Seus livros são profundamente enraizados na tradição, mas também – e isto é crucial – extremamente antenados ao que ocorre na cultura contemporânea, produzindo assim novos, surpreendentes e chocantes insights. Girard requer muita reflexão, e seu retorno à Igreja de sua infância, como era de se esperar, tornou-o menos palatável à ciência social “da moda.” Pessoas mais sábias do que eu, contudo, haviam apontado a importância fundamental desse francês expatriado. Uma das bênçãos de nossa era digital é que você pode assistir a Girard no Youtube, dando uma olhada nesse homem em ação.
Acrescento mais dois pensadores à minha nova família de influências (outra vez, franceses, o que em si é uma prova de que eu vou mais pelo conteúdo do que por afeições paroquiais – sou tudo menos um francófilo). A trilogia de Louis Dupré (um livro sobre o começo da modernidade, um segundo sobre o Iluminismo, e um terceiro sobre o Romantismo) não recebeu a atenção merecida. Assim como ocorreu quando li Deely ou Girard, algo similar ocorre quando tenho diante de mim uma página de Dupré. O outro francês é Rémi Brague, também autor de uma trilogia importante sobre a construção da modernidade.
Logo, eu adiciono esses autores também a minha lista.
- G.K. Chesterton, e em particular, a sua não-ficção. Ortodoxia e O homem eterno foram lidos por mim várias vezes e em cada uma delas senti-me totalmente tomado. Seu efeito sobre a mente é nada menos do que tonificante.
- São John Henry Newman, cujas obras Gramática do assentimento, Ensaio sobre o desenvolvimento da doutrina cristã, e Ideia de uma universidade – com suas visões novas, mas enraizadas, sobre a fé, a história e a educação, respectivamente – marcam ele como um moderno Padre da Igreja.
- Hans Urs von Balthasar – suplementado por Agostinho e Tomás de Aquino –, em minha opinião, o maior teólogo dos tempos modernos (glosado e contextualizado por Cyril O’Regan e Aidan Nichols, e, em certos assuntos, saudavelmente ‘chacoalhado’ pelos retoques corretivos do brilhante teólogo ortodoxo, David Bentley Hart).
- C.S. Lewis, provavelmente o mais sofisticado apologista cristão do século XX, assim como um guia esplêndido para a literatura pré-moderna. Dois sucessores dignos de Lewis seriam o americano Peter Kreeft e o inglês (recentemente falecido), Stratford Caldecott.
- Max Picard: O Mundo do silêncio, O homem e a linguagem, e qualquer outra coisa que se possa encontrar traduzido (ele escreveu em alemão). Um gênio contemplativo pouco celebrado, particularmente fascinado pelos universos infinitos da face humana.
- Cornelio Fabro, o único tomista que conheci que conseguiu penetrar verdadeiramente no íntimo da mente de Tomás de Aquino, e depois prosseguir com o mesmo pensamento através dos séculos subsequentes. Não é para os fracos… (Suas obras principais estão sendo finalmente traduzidas para o inglês).
- Os frades dominicanos de meados do século XX na Inglaterra, e os seus correlatos tomistas nos Estados Unidos: Thomas Gilby, Victor White (Reino Unido), Vincent Smith, James Collins (EUA); e também os contemporâneos E.L. Mascall, E.I. Watkin, Henry Babcock Veatch. Essas caras jamais nos decepcionarão.
- R.C. Zaehner, o melhor estudioso de religiões mundiais que eu conheço, que – porquanto seja um convicto católico convertido– recusa-se a “levantar falso testemunho” com respeito a outras abordagens da transcendência. Sua profunda fé gera um pensamento robusto e aventureiro. Devo incluir também Raimon Panikkar, Wilhelm Halbfass, e Huston Smith.
- Historiadores: Friedrich Heer, Eric Voegelin, Christopher Dawson, William McNiel, Eugen Rosenstock-Huessy: todos estes perceberam que – goste-se ou não – a afirmação ou a rejeição da transcendência prepara o palco para a história, que é feita de escolhas humanas. Tudo o mais é secundário e terciário.
- A.K. Coomaraswamy: do meu ponto de vista, o representante mais consistentemente cultivado e penetrante da tradição indiana de língua inglesa, com conhecimento enciclopédico e uma potente intuição com respeito à arte, filosofia e religião em todas as suas formas. Pesado na erudição, e talvez com notas de roda pé excessivas, suas intuições são profundas, estimulantes e infindáveis.
- Joseph Pieper: o melhor e mais acessível intérprete popular da sabedoria ocidental, na tradição platônica-aristotélica-tomista, especialmente em questões morais.
- Norris Clarke and Richard de Smet: dois entre muitos que estão atualmente se especializando na noção ocidental e semítica de pessoa, como o elo final de articulação não só das tradições sapienciais ocidentais, mas também orientais – e mesmo das tradições ágrafas. Essa noção detém a chave às dimensões mais profundas da filosofia perennis – não apenas metafisicamente, mas também moral e musicalmente.
- John Deely: ele faleceu no começo de 2017, mas nos deixou uma quantidade enorme de textos. Comece com o seu Basics of Semiotics, ou melhor: Semiotic Animal. Os tomistas deveriam ler primeiro o seu Intentionality and Semiotics. (Há mais, muito mais). De Girard, comece com seus trabalhos mais recentes, pós-1977, começando com Things Hidden Since the Foundation of the World. Os mais importantes livros de Dupré são provavelmente os três livros mencionados acima.
- Acrescento agora (em 2019) as obras de Rémi Brague, especialmente Eccentric Culture, e (em 2020) de Troy Wilson Organ, who combined, admirably, a high degree of Aristotelian scholarship (publishing the only complete index to the Stagirite’s work in English), with a profound interest in Indian philosophy (numerous works).
- Esqueci de incluir as obras de Iain McGilchrist, The Master and His Emissary, and, more recently, the 2-volume opus The Matter with Things. McGilchrist does not have a good formation in pre-modern philosophy, but his love and knowledge of literature and his training in neuroscience and psychiatry give him privileged access to a whole range of insights even philosophers trained in the scholastic tradition can easily miss.