Após voltar de Beijing, Monte Tai, Qufu e Harbin, no leste da China, tomei um avião para Xi’an, uma das antigas capitais e sede de um enorme projeto de tradução que ensinou o Budismo aos chineses nos meados do primeiro milênio d.C. Eu tinha ido ao Leste Asiático (foi em 2004) para pesquisar o taoismo, o Confucionismo e o Budismo chinês in situ, e Xi’an oferecia muito para suplementar aquilo que eu já havia visto em minhas visitas nas regiões do leste. Contudo, após explorar o Pagode do Ganso Selvagem [Wild Goose Pagoda] (lugar daquelas traduções revolucionárias), alguns museus e os fabulosos Soldados de Terracota do primeiro imperador, notei uma curiosa recomendação em meu guia: ‘Floresta de Estelas’. Decidi dar uma olhada.
Muito antes do disco rígido, havia a estela rígida, uma técnica de armazenamento de informação que deve sobreviver ao Google. Era um método empregado por um imperador do século XI para preservar textos importantes, imagens e caligrafias de sua civilização, não em osso, casco de tartaruga, pergaminho, nem na famosa invenção chinesa do papel, mas em textos cinzelados em grandes blocos (estelas) de granito. Enquanto caminhava pela espessa floresta de cerca de 3.000 pedras negras e de uma miríade de caracteres chineses, lembrei-me de Lucas 19, “… até as pedras clamarão”. Aqui o orgulhoso legado da China fez o seu melhor para aproximar-se o mais possível de uma forma de perpetuidade. Porém, ao me aproximar do portão frontal para sair, notei uma grande estela à minha direita que não havia visto na entrada. Eu li o breve título em Inglês: ‘The Nestorian Tablet of the Tang Dynasty’ [‘A Tábua Nestoriana da Dinastia Tang’].
Eu soube depois que os cristãos nestorianos tinham chegado à China não muito depois dos budistas, e que essa estela havia sido confeccionada no século oitavo, mas fora enterrada no século seguinte, durante as perseguições ao Budismo e a outras religiões estrangeiras. Foi desenterrada no começo do século XVII e os missionários jesuítas ajudaram a interpretá-la. Na virada do século XX, esforços da parte de um museu ocidental, a fim de se apropriar da estela, fizeram os chineses agarrarem o artefato e o colocarem longe do alcance de mãos estrangeiras. Puseram-no na ‘Floresta’. Esse lugar logo se tornou um tesouro nacional do povo que chama seu país de o ‘Reino do Meio’, destinado a sobreviver até mesmo à devastação da Revolução Cultural de Mao Zedong nos anos 1966-76. É uma esquisitice da história que essa coleção cheia de pura sabedoria e beleza nativa da China não mostra uma única inscrição budista, mas ostenta galhardamente um documento cristão bem em sua porta de entrada.
O Cristianismo atualmente é a religião que mais cresce na China, e se a atual tendência continuar, a China poderá ter a maior população cristã do mundo em 2030 (maior até do que a do Brasil). Não menos do que o monólito fictício de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, a estela nestoriana, que faz parte autêntica da história cristã, pode ter disparado uma genuína mudança na aventura humana.