Nossas vidas emocionais parecem simples. Choramos, rimos. Toda criança faz isso. Presumimos que sofisticação, paradoxo e mistério sejam reservados para as atividades mais adultas da razão e reflexão. Quando procuramos as dimensões mais profundas do mundo, e as mais furtivas das nossas próprias vidas, nos voltamos para os provedores de sistema e argumento. Deixamos as choronas na creche. Mas estamos enganados.
A experiência mais simples, provindo dos nossos corpos e até nossos fluidos, já levam as marcas do mais profundo enigma da existência humana. Refiro-me às nossas lágrimas. Que choramos na presença de grande dor ou profunda tristeza parece uma reação “lógica”, provocada de dentro das nossas complexidades evolucionárias. Dá-nos um tipo de descarga, como comer quando com fome, beber quando com sede, ou se deitar quando cansado.
Mas o que significa o fato de chorarmos quando profundamente felizes, ou quando abençoados com alegrias transcendentes? Porque é que tais circunstâncias não afastam as lágrimas como descabidas, ou até bani-las como desmancha-prazeres? Pelo contrário, elas não fogem – quando muito, correm ainda mais.
Entre os rios salgados que escorrem pelo nosso rosto, não há diferença química alguma, por exemplo, 1) quando correm porque aprendemos que um ente querido tenha morrido, e 2) quando correm porque encontramos outro ente querido, ainda vivo, mas que não temos visto por anos. Aqui, lágrimas de alegria; lá, lágrimas de tristeza – signos aparentemente opostos, mas brotando dos mesmos mananciais. Elas vêm do fundo de corações que acabaram de captar um sentido, um segredo profundo sobre a existência humana. Mas é um segredo que as lágrimas dos olhos já entendem, enquanto os labios da boca não podem verbalizar.