Você pode ser muito inteligente e muito mau, mas não pode ser sábio sem ser bom. Ser inteligente, ou esperto, significa que você tem uma mente mercurial – talvez até um QI muito alto – podendo manipular silogismos e dissecar argumentos com uma rapidez invejável. Você pode resolver somas e dançar um ballet discursivo nas tabuadas sem derramar uma gota de suor. Mas, nada disso exige bom caráter. Em resumo, você pode ser um mestre em lógica, cálculo e até retórica, mas ser um demônio por dentro.
Astúcia e esperteza são apenas habilidades, e alguns nasceram com mais aptidão para elas do que outros. Podem até ser afiadas à perfeição por meio da prática e do estudo, mas não deixam de ser dons neutros, podendo ser usados, como uma faca bem afiada, para cortar um pão para os seus filhos, ou para cortar gargantas como terrorista. De fato, você não vê coisa alguma só por ser esperto ou “altamente inteligente”; você apenas possui um talento inato para derivar, cotejar, concluir, inferir (e manipular!). Os princípios e premissas já lhe foram fornecidos de maneira pré-lógica, para o bem ou para o mal (dependendo, claro, da fonte das intuições).
Eis a questão. O que pressupomos, aquilo que sabemos antes de raciocinar – o que sabemos mesmo antes de usar a linguagem –, esses itens do conhecimento pertencem a uma ordem de verdades situadas na nascente do rio da lógica, não em sua foz. A lógica, assim como as operações matemáticas, podem correr como um carro acelerado ao máximo, mas com as engrenagens soltas; não vai a lugar algum a não ser que as intuições originais e pré-discursivas tiverem sido ativadas. Tais intuições são nutridas pela sua vida moral, sua humildade e honestidade, e também sua abertura à verdade e à correção fraterna.
A lógica simbólica, a matemática e também a habilidade retórica podem florescer, indiferentemente, em um santo e em um monstro. Soltas de qualquer amarração a princípios tanto metafísicos quanto morais, encontram a sua encarnação desengajada e desenraizada no moderno computador – sabidamente desapegado a emoções, significados e valores. Na esfera econômica, isso tem o seu correlato na supremacia do dólar, aquela medida friamente calculável de quantidade pura. Nele, a produção da riqueza genuína ocupa um lugar secundário ao aumento de lucro em termos numéricos. É cruelmente significativo que a medida do ganho monetário é indicado pela multiplicação do símbolo do zero, “O” – a cifra que significa nada.
Conhecimento tem sido tão completamente instrumentalizado em nosso mundo moderno, escravizado à tecnologia e privado de qualquer objeto de valor intrínseco, que sua manifestação principal tornou-se a de um produto destinado a ser consumido ou utilizado. A universidade onde trabalho proclama, descaradamente, que a sua finalidade é a “produção do conhecimento” – a ser um tipo de fábrica cognitiva. Nenhuma menção à verdade, à formação do caráter, à comunicação dos valores duradouros ou à apropriação de uma tradição comprovada. Numa palavra, “sabedoria” não consta mais no currículo, nem mesmo como um objetivo distante. Ela sumiu de vista na fumaça da fábrica, e no negócio de produzir uma série sem fim de mercadorias para consumidores que nem sabem que precisam delas. E, claro, não precisam. O que eles realmente necessitam – uma verdadeira sabedoria – terá de ser buscada em outro lugar. E, dado que o bem moral caminha de mãos dadas com a sabedoria, talvez devêssemos buscar nossos mestres e professores, primeiramente, entre os santos.