Assim que a morte de ‘Prince’ foi estampada nas primeiras páginas dos jornais do mundo ocidental, tive de perguntar – mais uma vez – por que tratamos músicos, atores e às vezes até políticos como os equivalentes contemporâneos dos santos tradicionais. Antes do Século XX, nossos artistas eram vistos com afeição, e com certa dose de respeito, mas, fora isso, eram conhecidos como vendedores de diversão e encanto, de renda baixa ou moderada, que tocavam seu comércio e tentavam dar uma vida decente para suas famílias. Mas hoje em dia, quando Deus e seus santos se desvaneceram de nossos horizontes, esses improváveis substitutos foram elevados aos nossos altares e canonizados pelo nosso órfão instinto de adoração.
Os pobres artistas só queriam fazer música para nós, ou atuar em um drama, mas, ao verem as pessoas se ajoelharem em sua presença e lhes fazerem chover milhões de dólares, acabaram ficando irremediavelmente confusos por dentro. Eles são forçados a serem oráculos da verdade última e doadores do júbilo espiritual, mas são muitas vezes obscurecidos pelas mentiras que seu papel lhes impõe. Ficam entristecidos pelo vácuo no coração que se insere em qualquer pseudo-deus. Mas nem sempre foi assim.
As vidas de Bach e Mozart, ou quaisquer dos grandes pintores da Renascença ao Impressionismo, estavam cheias de trabalho duro e apenas de uma modesta remuneração, as mais das vezes incomparavelmente inferiores àquela ganhada pelos astros de hoje. Claro, há notáveis exceções; alguns artistas mantêm seu bom senso e humildade, e até destinaram parte da sua riqueza para fins caritativos, mas estes são uma pequena minoria. A maioria cai, de uma forma ou de outra, no turbilhão do sexo, drogas e rock n’ roll. Não é fácil manter-se são e santo, quando todo tipo de tentação imaginável está ao alcance de seus dedos. E eles nem são unicamente os culpados por sua desfiguração. Nós somos os idólatras que os transformaram em ícones sobrenaturais.
Construímos o tipo de sociedade que eleva artistas de rua a celebridades ‘badaladas’, com seus fins muitas vezes trágicos divulgados nas manchetes dos jornais, de modo a assombrar nossas emoções e conversações por dias a fio. A morte de Santa (Madre) Teresa de Calcutá mal conseguiu uma manchete quando, dias antes do seu falecimento, uma confusa e desesperada princesa da Inglaterra foi morta num acidente de carro em Paris.
Perdemos todo o senso de proporção. Certamente, lágrimas deveriam ser derramadas, uma oração rezada e nossa consciência coletiva examinada ao ponderarmos sobre a morte de um Kurt Cobain, Michael Jackson, Heath Ledger, Phillip Seymour-Hoffman, Amy Winehouse, assim como os anti-heróis caídos de minha geração: Janis Joplin, Jimmi Hendrix, Jim Morrison, e todos os outros; e, claro, também para o bom ‘Prince’. Mas, por favor, removamo-los gentilmente dos pedestais nos quais os pusemos. No lugar destes, que tal colocarmos alguns dos santos mais robustos do Século XX, como Teresa de Lisieux e Maximiliano Kolbe? Suas orações podem levar até mesmo essas ruínas de seres humanos a uma glória só esporadicamente vislumbrada no miasma drogado da celebridade moderna.
Nunca fizemos uma criatura feliz adorando-a.