St. Justin Martyr

Algo está faltando…

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Em qualquer área de pesquisa, e particularmente naquela que ostenta séculos de avanços e impressionantes conquistas reivindicadas, novas descobertas e até mudanças significativas de paradigmas (para usar o clichê) normalmente implicam reajustes, novas perspectivas, ou novas peças a um quebra-cabeça cada vez mais coerente. A teoria da gravidade de Newton, o desvelar do espectro eletromagnético por Maxwell, e até a relatividade de Einstein e a teoria quântica de Planck, à parte toda a sua dramática novidade, ainda consideravam e interpretavam o cosmos em que vivemos e pareciam torná-lo mais inteligível, mesmo que ainda um pouco mais estranho.

Todavia, algo tornou-se crescentemente evidente na astronomia e na física contemporâneas, que joga todas as celebradas “revoluções” do passado nas sombras. Eminentes cientistas nos disseram – com testa franzida e nobre esforço para manter o ar de augusta autoridade que nós outrora lhes conferimos – que parece que tudo o que eles tão trabalhosamente nos ensinaram sobre moléculas e átomos e quarks e quasares e galáxias – numa palavra, sobre o universo material – aplica-se apenas a menos de 5% [sic] de toda a realidade física. O resto do real, ou seja, 95% dele, é ominosamente chamado de “escuro” (cerca de 25% sendo “matéria escura” e algo como 70%, “energia escura”). Recentemente, ouvi um eminente físico, perguntado por um leigo sobre o porquê de se chamar escura, responder com uma honestidade refrescante: “Porque não sabemos o que é.”

Dado que minha competência cai nas áreas da filosofia e teologia, normalmente mantenho minha boca fechada sobre as ciências naturais, só comentando acerca do que parece ser consenso em questões científicas. Às vezes, tangenciam meus tópicos de estudo. Entretanto, quando aprendi que a tese dos 95% é de fato, atualmente, um consenso científico, minhas antenas filosóficas e teológicas dispararam a plena carga, como descargas de relâmpagos. Ahn? Em momento algum duvido do que dizem, mas mais do que nunca, achei confirmada minha suspeita de que os cientistas raramente estiveram de todo conscientes das implicações mais longínquas das suas descobertas.

Esta constatação, em particular, tem implicações que devem ter provocado nos supramencionados mestres de outrora não apenas uma reviravolta em seus túmulos, mas também rodopios. Imagine o que aconteceria em qualquer outra área de estudo, se seus especialistas de repente descobrissem, após décadas de pesquisas e celebradas proclamações, que eles tinham de algum modo omitido 95% de seu assunto?

Para ser justo, alguns já estão pressagiando uma grande reformatação da ciência física para o resto do século XXI. Eu lhes desejo sorte. Mas o que lhes desejo mais do que qualquer outra coisa é uma poderosa lição de humildade. Coisa alguma tem sido mais usada como arma contra a religião, metafísica ou qualquer outra fonte de conhecimento não-científico do que uma CIÊNCIA prepotente.

Uma boa e comprovada ciência, em meu entender, jamais foi uma ameaça à boa religião ou à boa metafísica, mas a pretensão do “cientificismo” – quer dizer, a crença de que a única forma de conhecimento humano confiável é aquela fornecida pela ciência moderna – há muito tem merecido um bom chute na bunda. Quão oportuno que foram os próprios instrumentos de precisão que lhes forçaram a reconhecer a natureza fragmentária da maior parte do nosso suposto conhecimento da realidade física. Convidemos o velho Carl Sagan a ligeiramente redigir o seu batido mantra sobre a enormidade do universo: “Existem b-b-b-bilhões de coisas que não sabemos sobre o cosmos!”

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