Estamos acostumados a nos surpreendermos com o que não é óbvio, aquilo que ninguém jamais teria esperado. A boa filosofia, contudo, começa com um espanto que consiste, essencialmente, em ser surpreendido pelo que é (ou deveria ser) extremamente óbvio. Já se disse acerca de Sócrates – o vovô da filosofia ocidental – que, onde quer que estivesse e, a despeito de quantas vezes tivesse estado lá antes, ele sempre dava a impressão de alguém que estava lá pela primeira vez. Como na “Carta Roubada” de Edgar Allan Poe, os gatilhos do espanto filosófico escondem-se de nós ficando bem diante de nossos olhos.