O problema da maioria dos pensadores da moda é que eles pretendem transcender aquilo que nunca atravessaram, ultrapassar aquilo pelo qual nunca passaram, e deixar para trás aquilo que nunca tiveram diante de si. Todo pós-isto e pós-aquilo é agarrado como se fosse uma novidade absoluta, ainda que as energias convergentes do passado continuem informando cada novo pensamento e desejo. Uma suposta originalidade, separada de suas próprias origens, gera apenas capricho e presunção adolescente.
A pessoa verdadeiramente original trabalhou voluntariamente dentro da sua tradição e hauriu seiva de suas raízes para os seus – ainda não previstos– ramos e frutos. Virgílio imita Homero, mas não se torna outro Homero; torna-se Virgílio. Dante, por sua vez, imita Virgílio, e daí vem a Comédia – tão plena de novidades em relação à Eneida, quanto a epopeia de Virgílio o é em relação à de Homero. Shakespeare reconhecidamente plagia as melhores histórias de seu tempo, e em suas mãos elas adquirem o brilho de novas galáxias. Até mesmo o atonal Schoenberg curvou-se diante do altar de Bach.
Não me refiro apenas a um ideal antiquário ou conservador, mas a única revolução que importa – aquela que “volta de novo” (re-volta). É a volta às verdades que perduram, e que encontra a autêntica novidade nutrida apenas pela tradição perene, ponderada e desenvolvida por novas gerações. Confúcio, como sempre, acerta na mosca: “Só pode ser mestre quem aprendeu a gerar o novo, conservando aquecido o velho” (Analectos II, 11).